Redação/Portal de notícias e fotojornalismo Natal/eliasjornalista.com
“O preconceito é injusto e a gente não consegue aceitar que ainda exista nos dias de hoje, mas existe e é muito forte. O Brasil é o país que mais mata homossexuais no mundo. Quero que minha história sirva como exemplo para outras vítimas não se calarem. Que elas denunciem”. Foi isso que motivou Igor Henrique, esteticista natalense de 31 anos, a buscar a justiça, 11 anos atrás, quando sentiu na pele o preconceito.
Ele conta que estava em uma casa de shows de Natal quando um segurança o “convidou a se retirar” alegando que ele estava com roupas inadequadas. “Eu sabia que não desrespeitava nenhuma regra da casa, mas para evitar ainda mais constrangimento, decidi ir embora. Na época, tinha apenas 20 anos, e por um tempo, fiquei bem abalado, procurando em mim o problema. Depois percebi que não tinha problema nenhum e sim que me mandaram sair por outro motivo. Sofri crime de preconceito, homofobia”, relata.
Com a ajuda de uma amiga advogada, resolveu procurar a Justiça. Foram longos 11 anos de tramitação do processo, que foi até a última instância e deu ganho de causa ao potiguar. Igor Henrique recebeu a primeira parte do dinheiro e decidiu cumprir uma promessa que tinha feito a si mesmo quando deu entrada na ação judicial. “Prometi que se ganhasse, ajudaria instituições filantrópicas da minha cidade. Contei meu caso nas redes sociais e pedi aos seguidores indicações de quem poderia ajudar”, diz ele.
Igor recebeu uma enxurrada de mensagens com sugestões e decidiu conhecer pessoalmente o trabalho de algumas delas, para então fazer as doações. Uma das visitas foi à Sadef – Sociedade Amigos do Deficiente Físico do RN. Ele conheceu a sede, as histórias dos paratletas, e ficou encantado com o trabalho: “o esporte transforma vidas de pessoas que chegavam a se considerar inúteis por causa da deficiência. Algumas nunca tinham viajado e agora estão conhecendo o mundo representando o RN em competições esportivas. Não tive dúvidas na hora de escolher a Sadef para receber a doação”.
A Sadef é uma entidade civil, sem fins lucrativos, que há mais de duas décadas atua na busca da inclusão social, principalmente por meio do esporte. Tercio Tinoco, presidente da Sadef, diz que uma ajuda como a de Igor é sempre muito bem vinda e já presta contas do que vai ser feito com o dinheiro. “Vai ajudar e muito no projeto de ampliação da nossa sede. Estamos construindo consultórios para médico, psicológico e nutricionista. Assim vamos ter condições de atender melhor os nossos paratletas”, comemora Tercio.
Além da Sadef, Igor ajudou outras três instituições de Natal de diferentes áreas. O Lar da Vovozinha; Amor sem raça definida, ong que resgata, trata e busca donos responsáveis para animais abandonados; e Amico – Associação Amigos do Coração da Criança. No total foram doados 10 mil reais.
“Por mais que demore muito tempo, a justiça tarde mas não falha. Que meu caso inspire outras pessoas também a ajudar os mais necessitados, não olhar apenas pro próprio umbigo. Eu nunca tinha feito uma caridade desse tipo. É surreal a sensação de saber que estamos melhorando vidas e ajudando quem depende tanto de doações”, diz Igor Henrique.
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