Redação/Portal de Notícias e fotojornalismo/eliasjornalista.com
“Fiz questão, enquanto educadora e governadora, de vir a Angicos para lançar um desafio, que é fazer do RN um território livre do analfabetismo”, declarou Fátima Bezerra ao lançar na noite desta quarta-feira (25) a programação de comemoração ao centenário de Paulo Freire, patrono da Educação brasileira, a ser comemorado no ano de 2021. Nesses próximos dois anos, o Governo do RN, através da Secretaria de Educação, Cultura, Esportes e Lazer (SEEC/SEL), realizará uma série de atividades cujo maior enfoque será a educação para jovens, adultos e idosos, visando a erradicação do analfabetismo, que representa 12% da população do RN, ou cerca de 400 mil pessoas.
“Vamos continuar estudando a lição que Paulo Freire nos ensinou, que é lutar pelos sonhos. Quis o destino que a menina que chegou ao RN para continuar seus estudos fosse educadora e hoje governadora, para continuar com o sonho de acabar com o analfabetismo no nosso estado”, continuou Fátima em seu discurso. “Mesmo preso pelos militares e depois exilado, esse homem nunca desistiu. Ele nos ensinou a não desistir. Por isso venho conclamar Angicos e toda a região para trabalharmos e apagarmos essa chaga que são os altos índices de analfabetismo no RN”, concluiu.
Idealizada pela 8ª Diretoria de Educação e Cultura (Direc), que compreende os municípios de Afonso Bezerra, Bodó, Fernando Pedroza, Lajes, Pedro Avelino e Santana do Matos, dirigida pela educadora Francisca das Chagas Marileide, a solenidade agregou pessoas da cidade e contou com ilustres convidados, reunidos em um pequeno grupo de idosos, testemunhas vivas e reais de que as ideias de Paulo Freire realmente eram revolucionárias. Maria Gildenora Costa de Araújo, 72, teve o privilégio de ter sua vida totalmente modificada após “As 40 horas de Angicos”, ação contra o analfabetismo que ocorreu na cidade, em 1963, tendo sido Paulo Freire o protagonista. Naquela época, mesmo morando na cidade, ela nunca havia pisado em uma sala de aula. “Muita coisa mudou na minha vida depois que aprendi a ler e escrever”, disse, completando que o estudo lhe habilitou para trabalhar como assistente de um juiz, função a qual não teria desempenhado caso não tivesse sido alfabetizada. Para seu colega Paulo Alves de Souza, 77, a escola de Paulo Freire possibilitou àquela turma, em suas próprias palavras, dar um grande pulo para a frente, ou seja, evoluir na vida. “Aprender a ler foi a coisa melhor que eu fiz na minha vida”, afirma um agricultor que como muitos hoje em dia têm que pegar no cabo da foice e da enxada ainda crianças, em vez de lápis e cadernos.
A diretora da 8ª Direc enfatizou que a cidade se projetou mundialmente através de uma proposta filosófica singular. Ela explicou que dentre as atividades que serão desenvolvidas pela Secretaria da Educação, haverá uma ação específica para a cidade e região. “Com o ‘Cante e encante Paulo Freire no Angicos do Nordeste’ iremos trabalhar em conjunto com a Ufersa, o IF e as escolas estaduais da região para colocar em prática os ensinamentos dele que foi o maior educador deste País”, afirmou. Ao final, ela citou o apoio e a presença no evento do prefeito de Afonso Bezerra, Francisco das Chagas Bertuleza, de Angicos, Deusdete Gomes de Barros, de Fernando Pedroza, Sandra Jaqueline Ribeiro, e do reitor da Universidade Federal Rural do Semi-Árido – Ufersa, Araken de Medeiros Santos, concluindo com uma frase de Paulo Freire. “O ensino é uma forma de despertar a criticidade do aluno para que ele busque a ampliação de sua consciência social e consiga atingir sua autonomia”.
Presente à solenidade, o educador Marcos Guerra, que na época da “experiência de Angicos” foi monitor e chegou a ser secretário da Educação no RN, destaca o saudosismo que a iniciativa do governo estadual evoca ao voltar à cidade que ficou na história como um símbolo da luta pela erradicação do analfabetismo. “É um prazer imensurável estar aqui rememorando aqueles momentos tão importantes e cuja essência está sendo retomada”, disse.
Para o secretário de Estado da Educação, Getúlio Marques, O objetivo do projeto é impregnar a população de seus valores e ideais de pureza. “Paulo Freire prezava pelo diálogo, a liberdade de expressão, a amorosidade e a boniteza. Por isso estamos aqui para, para reafirmar conceitos humanistas, em ação através de uma política de alfabetização começando por este mesmo chão onde ele se encantou. Todos juntos podemos acabar com o analfabetismo, que ainda exclui 400 mil pessoas do nosso estado”, declarou.
O prefeito de Angicos, Deusdete Gomes de Barros, sugeriu que a governadora propusesse um projeto de lei declarando Angicos alo título de cidade-símbolo contra o analfabetismo no RN. “Temos que combater o analfabetismo e seu principal companheiro que é a evasão escolar”, citou.
Dentre as muitas autoridades e lideranças políticas presentes, participaram do evento, realizado em frente à centenária Escola Estadual José Rufino, as secretárias titular e adjunta da Sethas (Trabalho, Habitação e Ação Social), Iris Oliveira e Josiane Bezerra, cuja pasta também integrará a mobilização contra o analfabetismo; a secretária adjunta da Educação, Márcia Gurgel; e o secretário de educação de Pedro Avelino e representante da Undime (União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação), Marcos Antônio.
Antes de ir para a atividade, a governadora visitou a Direc e recebeu a carta de um tatuador, que terminou os estudos através do EJA (Escola de Jovens e Adultos), Pedro Rafael Gomes da Silva, na qual ele destacou a atividade de tatuador, não reconhecida por uma parte da sociedade. Ao final, pede que seja realizado nas escolas o ensino de arte aos moldes de Paulo Freire “para ajudar a tirar os jovens da marginalidade”.
EXPERIÊNCIA ANGICOS – O local, Angicos, escolhido para o lançamento das festividades e do concurso para o selo comemorativo aos 100 anos de Paulo Freire, destinado a todas as escolas da rede estadual de ensino, está diretamente ligado a uma das mais exitosas ações do patrono da Educação brasileira. Há 55 anos, esta pequena cidade situada no Oeste potiguar foi o cenário do que seria um projeto-piloto contra o analfabetismo, inserido no Programa Nacional de Educação, criado no governo do então presidente João Goulart.
Ao longo dos anos, Angicos, cidade-natal do governador da época, Aluízio Alves, que apoiou integralmente o projeto, tornou-se conhecida mundialmente na Educação por ter abraçado o educador Paulo Freire, em sua célebre experiência de alfabetização que ficou conhecida como “As 40 horas de Angicos”. Mesmo exitosa, a experiência foi tida como subversiva. O presidente e o governador tiveram seus mandatos cassados, o educador foi preso por 70 dias e depois se exilou no Chile.
Deixe um comentário