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Sustentabilidade norteará revitalização da produção de algodão no RN.

Redação/Blog Elias Jornalista

Governo do RN discutiu cultivo associado a sistemas agroalimentares em Seminário nesta terça-feira

Matéria-prima versátil em todo o mundo, o algodão é utilizado em diversas indústrias, desde a têxtil, onde sempre ocupou destaque na moda, até a indústria alimentícia, com o óleo extraído de suas sementes sendo recomendado por suas características saudáveis. O Rio Grande do Norte, que já ocupou posição nacional de destaque na cotonicultura, está focando na retomada de sua produção de forma sustentável para alavancar a economia no semiárido por meio da elaboração do Projeto Algodão Agroecológico Potiguar, que busca a revitalização desta cultura associada aos sistemas agroalimentares e com a produção de algodão agroecológico já certificado e com comercialização totalmente articulada.

Como parte desse processo, o Governo do RN realizou nesta terça-feira, 19, o seminário “Algodão Agroecológico e Sistemas Alimentares”, focando a discussão das experiências bem sucedidas de produção e comercialização do algodão agroecológico em curso no estado da Paraíba e que podem ser implantadas no Rio Grande do Norte. O evento foi promovido pelo comitê gestor rural do RN, formado pelo Projeto Governo Cidadão, pelas secretarias de Agricultura Familiar (Sedraf) e Agricultura, Pecuária e Pesca (SAPE), Instituto de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater), Empresa de Pesquisa Agropecuária do RN (Emparn) e pelo Instituto de Defesa e Inspeção Agropecuária do RN (IDIARN).

EXPERIÊNCIA DE SUCESSO NA PB

No auditório da Emater, Maysa Gadelha e Vlaminck Paiva, coordenadores do Programa Algodão Orgânico da Paraíba, expuseram a pesquisadores e técnicos dos órgãos estatais envolvidos e também a membros de cooperativas e de outras organizações da sociedade civil a experiência sustentável que tem melhorado a vida das pessoas do semiárido paraibano. Detalharam tecnologias aplicada à semente de algodão, ao plantio e as necessidades sustentáveis das famílias agricultoras que se dedicam a este cultivo.

Presidente do Instituto Casaca de Couro e da Cooperativa de Produção Têxtil da Paraíba (CoopNatural), instituições voltadas ao desenvolvimento da cotonicultura, Maysa é designer, empreendedora e pioneira no fomento ao algodão colorido e algodão orgânico. Para ela, o sucesso obtido desde 2015 neste ramo “une consórcios agroalimentares e uma definição clara de mercado: as agricultoras e agricultores plantam e já sabem até por quanto vão vender seu produto. Isso fecha esse ciclo virtuoso que temos na Paraíba”, revelou. “Há, ainda, uma memória afetiva de querer retornar a este ciclo produtivo tão próspero que fez com que gerações de nordestinos fossem sustentados pelo algodão. Não estamos inventando algo novo, mas retomando um produto do passado e que hoje pode se tornar excelente fonte de renda, justa do ponto de vista social e ambiental”, completou Maysa.

PRODUÇÃO CONSORCIADA COM MILHO E FEIJÃO

Vlaminck Saraiva, vice-presidente da CoopNatural, engenheiro agrônomo e extensionista rural da Empresa Paraibana de Pesquisa e Extensão – Empaer, contou que as vitórias obtidas vieram por meio dos esforços para conseguir doação de sementes, principal insumo desta cultura; apoio técnico da Empaer; um esquema logístico bem estruturado; acesso a sacaria especializada para acomodação do algodão; e, por fim, obtenção da certificação orgânica, etapa de alto custo – cerca de R$ 5 mil por agricultor. “Queremos que produtoras e produtores compreendam o processo no qual estão envolvidos e que o algodão será mais uma alternativa de renda aos seus arranjos produtivos de milho e feijão”, finalizou.

“Nossa meta de desenvolver a cadeia produtiva do algodão a partir da perspectiva da agricultura familiar está de acordo com o que foi explanado hoje neste seminário”, completou o secretário de Gestão de Projetos e Metas e coordenador do Governo Cidadão, Fernando Mineiro, que considera a cultura algodoeira como “estratégica para o desenvolvimento do Rio Grande do Norte”.

RETOMADA INTEGRADA E PLANEJADA

Para o titular da Sedraf, Alexandre Lima, “o seminário está sendo essencial para apoiar a cadeia produtiva do algodão e avançar nesta transição agroecológica. Nossa proposta inicial é a produção do algodão e de alimentos em consórcio, seguindo os princípios da agroecologia e da convivência com o semiárido”.

A retomada do cultivo do algodão no Rio Grande do Norte com a força de outrora está sendo feita de forma planejada, inserida nas políticas públicas já iniciadas pelo Governo do Estado, como lembrou o diretor técnico da Emparn, Marconi Mendonça em sua fala: “Não é uma retomada qualquer, pois estamos em sintonia com os acessos a mercados, com a agroecologia, temos uma ATER fortalecida e não vamos deixar de lado o acesso alimentar das famílias produtoras”.

O caráter integrado deste trabalho de retomada no RN envolve seis órgãos estaduais e destaca o esforço que está sendo empenhado a nível estadual. “É o trabalho coletivo defendido pela governadora Fátima Bezerra que vai colaborar diretamente com a convivência das famílias do semiárido”, disse Cesar Oliveira, dirigente da Emater.

Um segundo seminário ficou marcado para agosto, quando a instituição Diaconia fará uma exposição de suas experiências na Paraíba. Após a rodada de seminários, o Governo do RN terá bases mais concretas para avançar com o projeto potiguar.

Em junho passado, a governadora Fátima Bezerra conduziu a criação de um grupo de trabalho para estudar a retomada da cultura do algodão, proposto inicialmente para os municípios de São José do Seridó, Cruzeta e Acari pelo Instituto Riachuelo, entidade criada em 2020 para promover o desenvolvimento econômico e social no Nordeste.

ALGODÃO AGROECOLÓGICO

Essa modalidade de cultivo surgiu na Paraíba com o objetivo de melhorar o sistema tradicional da plantação de algodão que utiliza alta carga de agrotóxicos em um sistema monocultor cuja consequência é a contaminação e o empobrecimento do solo e uma fibra que, a longo prazo, pode perder qualidade. Produtores paraibanos começaram, então, a plantar o algodão na época de chuvas e com um espaçamento maior entre as plantas, dificultando ataques do bicudo, espécie de besouro que dizimou plantações no RN.

HISTÓRICO

A produção de algodão em solo potiguar ocupou lugar de destaque nacional entre os anos de 1960 e 1980, quando o chamado “ouro branco” chegou a responder por 40% da arrecadação de ICMS, gerando emprego para milhares de potiguares, especialmente nos municípios de Afonso Bezerra, Pedro Avelino, Angicos, São Tomé e João Câmara. A cotonicultura expandiu linhas férreas de mais de 500 quilômetros em território potiguar, por onde escoavam a produção das usinas algodoeiras. Nos anos 1970, o Nordeste foi o maior produtor nacional de algodão.

Estiveram presentes ao Seminário o secretário de Agricultura de Campina Grande, Renato Gadelha; o vice-prefeito de Severiano Melo, Yure da Silva Paiva; representante do Movimento Sem Terra (MST), Hildebrando Andrade; representantes do mandato do deputado Francisco do PT, do coletivo feminista 8 de março e da Articulação Semiárido Brasileiro (ASA).

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