Por falta de apoio, Núcleo para Tratamento da Obesidade Infantil do Varela Santiago vai fechar.
A notícia não é boa e traz um alerta para os impactos negativos no futuro. O Núcleo para Tratamento da Obesidade Infantil do Varela Santiago vai fechar as portas e suspender o seu funcionamento. A decisão foi tomada nessa sexta-feira (24) com muita tristeza e preocupação, explica o diretor superintendente da instituição Dr Paulo Henrique Xavier. “É muito triste, mas infelizmente não será possível continuar pois não temos apoio do município, do estado nem da união”.
De acordo com dr. Paulo, o Núcleo foi montado com uma estrutura física muito boa e com um atendimento multidisciplinar, referência no país. “Investimos em um projeto diferenciado e pioneiro no Nordeste, com bioimpedância, o que tem de melhor em tecnologia para tal fim. Reunimos uma equipe técnica de primeira. As crianças eram vistas de 15 em 15 dias. Não era aquele núcleo que você faz uma consulta com um endocrinologista ou nutricionista, eles passam uma receita e o paciente volta com 6 meses. No nosso núcleo elas eram vistas quinzenalmente”, afirma o diretor.
A ideia, explica dr Paulo, era que essas crianças continuassem sendo vistas de 15 em 15 dias, mas por falta de transporte dos municípios, elas faltavam e o atendimento passou a ser mensal. “Criamos o núcleo para dar, além da assistência técnica, vale transporte e uma cesta para a criança se alimentar naquele período. Não adianta a gente orientar a criança e a mãe qual alimento ela deve dar, ensinar em uma oficina, e ela chegar em casa e não ter esse alimento, nem como comprá-lo. Nossa ideia era fazer uma coisa completa”, diz o diretor.
Segundo ele, o projeto já começou deficitário. “Tínhamos uma despesa de 20 mil reais por mês. Aguardamos o primeiro ano, segundo ano, não tivemos nenhum apoio. Não suportamos mais e infelizmente vamos ter que fechar. É muito triste, ainda mais em um Estado que amarga o título de segundo colocado no país em número de obesos na faixa etária dos 05 aos 09 anos de idade”, lamenta. “O mais preocupante é que se essas crianças mantiverem a obesidade até os 10 anos, elas têm uma chance de 80% de se tornarem adultos obesos. Então o problema que já é grave hoje, tende a piorar ainda mais no futuro”, acrescenta a endocrinologista pediatra Iluska Medeiros, coordenadora do Núcleo.
Até hoje foram realizadas, no Núcleo, oito mil consultas, e tiveram 115 crianças atendidas, com excelentes respostas, acrescenta dra Iluska. “Nos primeiros quatro meses de tratamento tivemos redução de peso em 92,5% dos pacientes e 87,5% deles diminuíram a gordura corpórea. A média de perda de peso foi de 450g por consulta, quase meio quilo. Em nenhum lugar do mundo a gente encontra números tão bonitos”, comemora.
Os números também foram muito bons no “pós-pandemia”, explica dra Iluska. “Nos quatro meses após a pandemia, a gente conseguiu fazer com que as crianças mantivessem a perda de peso e redução do IMC, porém num nível menor, com redução na resposta clínica em 30%. Se a gente levar em conta que durante a pandemia a maioria das crianças engordaram, isso mostra que o atendimento multidisciplinar do núcleo foi um sucesso, em manter essas crianças em uma boa evolução do tratamento. Nenhum lugar oferece um tratamento tão completo, nem na rede privada”.
Acabar tudo isso traz muita tristeza e preocupação, lamenta a coordenadora. “Infelizmente vai deixar uma parcela importante da população sem assistência e provavelmente essas crianças, sem um bom acompanhamento, evoluírem para problemas futuros e com certeza onerar ainda mais o sistema de saúde com problemas cardiovasculares, insuficiência renal, hipertensão, etc. Infelizmente os gestores não enxergam a importância de se tratar a obesidade ainda na infância”, finaliza.
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