Redação/eliasjornalista.com – com texto de Gerson de Castro – Secretário de Comunicação da Prefeitura de Natal
Iniciamos cada jornada, nem sempre com boas notícias. Nesta terça-feira (2), recebi o anúncio do fim da versão impressa do Diário de Natal, uma triste e ingrata surpresa. Infelizmente um desfecho da história da imprensa potiguar, com 73 anos de existência, atuando com imparcialidade, priorizando sempre a melhor informação. Com sentimento de perda, mas de olho no futuro, por três meses um laboratório fantástico, desde a Editora Juliska Azevedo, os colegas guerreiros da Redação, Diagramação, DN Online, Fotografia, e demais funcionários, que harmonizava nossos dias. Aprendi a substituir a falta de talento pela persistência em exercer tão nobre profissão: Jornalismo acima de tudo.
Morte Anunciada: “Recebo com tristeza, no inicio da manhã, a notícia da morte física do velho Diário de Natal. Sai de cena a versão impressa de um jornal que passará a ter apenas a versão eletrônica. Não sei explicar o que estou sentindo. São muitas as sensações, as lembranças deste que foi a minha primeira e maior experiência profissional. Lá entrei ainda garoto, estudante do segundo ano de Jornalismo. Fui repórter e editor de Polícia numa experiência inesquecível tanto do ponto de vista profissional quanto pessoal. Saí de lá para alçar novos voos. E voltei seis anos depois para ser repórter e depois editor de Política e Cidades. Lá convivi com grandes jornalistas e vivi momentos memoráveis. Criei laços e deixei amigos. Apesar de todas as contradições e choques que se impõem entre a liberdade de expressão e a linha editorial – muitas vezes gerando conflitos entre direção e redação e entre o editorial e o comercial – o Diário de Natal sempre foi uma voz em favor da liberdade, da Democracia, dos direitos do Cidadão. Muito antes de o Ministério Público ganhar a conformação que tem hoje, era o Diário de Natal, a despeito do seu conservadorismo, quem encampava a defesa da sociedade. Nas redações do Diário de Natal, cuja edição dos 60 anos tive a honra de editar, aprendi o valor da liberdade, da Democracia, do respeito ao cidadão e, sobretudo, a encarar o Jornalismo como ferramenta de construção da Cidadania. Se os tempos e as circunstâncias obrigam uma nova versão do velho DN que ele e todos os seus profissionais tenham êxito no meio eletrônico. Mais do que observador e guardião da memória do povo norte-riograndense, o velho Diário de Natal é parte da nossa História. Da minha história. E eu me sinto muito feliz e honrado por isso”, Secretário de Comunicação, Gerson de Castro.
A notícia mais triste da manhã chegou trazendo um vazio. Lembro do dia em que a versão impressa do Diário de Natal mudou de standard para tabloide e aquilo já foi triste. Já trazia um sentimento de perda. Mas o anúncio do fim, no dia de hoje, me remete a uma reflexão que há tempos existe na Universidade: será que o impresso sobreviverá se continuar engessado no modelo que está hoje? Sou apaixonada por impresso. Mas, infelizmente, estamos perdendo a mão. E isso acontece por um motivo que os mercadólogos sempre pregam: cada produto tem um ciclo de vida. Sendo assim, ou ele se reinventa ou ele é substituído por outro. Espero que os Jornais impressos que continuam no mercado se modifiquem, se readequem, revivam. Precisamos disso.
Hoje é um dia de extrema tristeza para mim. Meu coração tá partido. Minha dor não é pela demissão, mas pelo fim da história de jornal como o Diário de Natal, que lutou por causas sociais, retratou o cotidiano desse estado, compartilhou vitórias, enfim, que cravou seu nome no povo potiguar. O Diário de Natal foi minha casa por 13 anos, aqui fiz muitos, muitos amigos que irei levar para o resto da vida, aprendi tudo que sei de jornalismo e muita coisa que sei da vida. Acabo de receber minha primeira carta de demissão, mas choro não por isso, choro pelo fim do DN. Estou sentada pela última vez na minha sala aqui no jornal, sentirei muita saudade, uma saudade gostosa de tudo, inclusive dos muitos chatos e irritantes. Vou agora para a mesa de um bar afogar a minha saudade.
Lamento pelos profissionais, lamento por viver em um país onde as coisas sérias não são levadas a sério, como se não tivessem o devido valor…Não desanimar, olhar adiante, levantar a cabeça e fazer da queda motivos para um novo começo ainda melhor…abraços
Nunca estarás sozinho…faça desse momento uma mola que irá impulsioná-lo ainda mais alto….
Amigo, vcé um cara iluminado e abençoado por Deus, um profissional dedicado, inteligente e guerreiro! Pense que Deus quando nos tira algo, com certeza novos horizontes surgirão ! Torço por vc e seus amigos! Um forte abraço!
É lamentável. Mas fazer o que? os profissionais estão aí, os talentosos prontos pra produzirem,; respire fundo, peça orientaçao a DEUS e algo de muito bom vai acontecer. O melhor de DEUS ainda está por vir. Um abraço.
Flávio Rezende Alma boa, vc sozinho é um jornal.
É um casamento com a cidade que acaba, espero que os filhos possam encontrar abrigo em outras mães por ai, luz do bem.
Muitas vidas foram cruzadas nesses bastidores de entrelinhas,nas fotos brilhantes exibidas por grandes amigos e em especial ao longo dos anos de legado Frankie e Fábio. O meu pesar à todos os colaboradores e que novas oportunidades possam surgir para todos!!!
ARTIGO | Não somos os mesmos
Me defini pelo impresso no início da faculdade. Trabalhar em jornal começou como um desejo, virou um sonho e, no final do curso, já era uma obsessão. Na primeira metade da década passada estagiar num jornal da cidade era bem mais disputado que o vestibular. Na minha turma, Bruno Vasconcelos, hoje no Diário de Pernambuco, foi o primeiro. Entrou, se firmou e não largou mais. Era a referência da sala. Fui à luta.
Levei um currículo, dois, três e nada. Apelei para o tio da minha ex-namorada. Dirigente do ABC, tentei entrar pelo velho QI. Quase no fechamento do jornal, esbarrei com Edmo Sinedino. Junto com o mesmo currículo que dormia na gaveta da chefia de reportagem fazia seis meses, entreguei um arremedo de matéria. Não tinha vaga.
Voltei na semana seguinte com a mesma cara e coragem para encarar o chefe de pauta Dionísio Outeda. A resposta também foi igual: não tem vaga. Apelei para a concorrência. Na Tribuna do Norte não passei da portaria. No Jornal de Hoje foram menos frios, mas também não teve jeito.
Retornei ao Diário duas semanas depois para ouvir a mesma conversa. Aproveitei o destino. Na mudança de semestre paguei a disciplina ‘Técnicas de reportagem’ com o professor Albimar Furtado, na época superintendente do Diário. A abordagem foi no corredor e exagerada.
– Professor, faz quase dois anos que eu tento entrar no Diário e não consigo. Já levei seis currículos e nada. O que eu tenho que fazer?
Ele pediu para ir na quinta-feira pela manhã procurar o diretor de redação Osair Vasconcelos. Fui para casa comemorando. Não tinha erro. O dono falou está falado. Na hora marcada pedi à recepcionista já com uma bossa de repórter veterano para avisar Osair que Rafael, indicado por Albimar Furtado, estava ali para começar a trabalhar. Minha experiência em redação se resumia a uma semana como redator do jornal ‘Balacobaco’, distribuído na Cientec. Em três segundos ela voltou com a resposta:
– Ele mandou você voltar outro dia porque está fechando o Poti e é impossível parar agora.
Pense numa frustração. Fui atrás do professor de novo. Marcamos para terça-feira. Dessa vez o nome era o chefe de redação Carlos Magno Araújo. Na data, naquele 3 de agosto de 2004, completei 25 anos de idade. Magno ensaiou um ‘deixe seu currículo aqui porque aparecendo vaga a gente chama’. Cortei na metade. Eu só queria uma oportunidade. Foi o dia mais importante da minha carreira. Trabalhei cinco meses sem receber um centavo. Pouco importava. Eu briguei para estar onde eu queria. Aquela vitória rendeu três Brahmas no bar do Lourival. Me apresentei ao dono do boteco como repórter do Diário de Natal sem ter dado um dia de expediente. Muitos dos meus colegas e amigos também marcaram suas carreiras no velho Diário. A dor é coletiva. O fim do jornal não passa uma página, fecha um livro. O que consola é perceber que justamente de termos feito tudo o que fizemos, hoje não somos os mesmos depois do Diário de Natal.
Até hoje não me acostumei com o fim do DN. Um vazio na imprensa escrita, grandes proficionais e cruzeteiros, meu amigo Carlos Santos que Deus a tenha no céu, Santana, Carlo Santos , Jorge filho, o saudoso Pepe dos Santos, Luiz Romão e etc… já mais teremos um substituto à altura do nosso querido DN/Poti.