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Artigo do jornalista Flávio Rezende
Em menos de doze horas passei por duas situações inusitadas e que promoveram reflexões diversas em meu ser.
Ontem ao esperar minha esposa no carro diante de uma farmácia fui abordado por um senhor bem vestido, com aparência de classe média alta. No frigir dos ovos me pedia uma ajuda. Eis o resumo: é engenheiro, trabalhou em diversas obras e fez muito dinheiro, chegando a constituir uma empresa para prestar serviços para grandes empresas na instalação de parques eólicos em nosso Estado.
Estava com 42 funcionários quando veio a Lava Jato e seus dois maiores clientes eram empreiteiras envolvidas que deixaram de honrar compromissos com ele o levando a quebra. Uma ação judicial coletiva dos seus empregados levaram todo seu patrimônio e precisava chegar em Fortaleza para uma entrevista de emprego e não tinha dinheiro para a passagem.
Acreditei e dei. Pode ser tudo mentira? Pode sim, mas a história estava toda bem estruturada. Ele saiu chorando e fiquei pasmo e pensando em quantas pessoas estão passando por situações diversas, desempregadas, falidas, tudo em decorrência de uma política econômica desastrada e do conluio entre agentes públicos e privados no saque ao nosso dinheiro.
Hoje pela manhã compareci a uma audiência de conciliação contra um banco que me tirou recursos sem autorização. Ao fim fui com meu advogado tomar uma cafezinho de 50 centavos numa banquinha improvisada.
A dona conversava com outra senhora e terminamos nos envolvendo no papo. Resumo: a cafeteira lamentava a morte do seu filho por policiais numa troca de tiros. Ele marginal, com várias passagens. Ela narrava a dor de perder um filho, mesmo reconhecendo a malignidade das ações do rebento. Para minha surpresa e do advogado, a outra mãe começou a chorar. Ela também chorava a perda do seu filho, há seis meses, morto por bandidos que foram roubá-lo. Ela comentou que o mesmo se prontificou a entregar tudo sem problemas e mesmo assim foi assassinado cruelmente.
Ao ouvir seu relato fiquei pasmo. Ali, diante do meu ser o encontro casual de duas mães tristes. Duas mães dilaceradas. Ambas perderam seus filhos. Um bandido, outro um estudante cheio de sonhos, jovem, muito calmo e pacífico segundo a mãe. O marginal muito agressivo e reincidente, mesmo assim um filho.
Rapaz como a vida é cheia de histórias diversas. Umas felizes e outras muito tristes. Como disse no começo, na metade de um dia testemunhei um senhor outrora muito bem sucedido sucumbir junto a 42 funcionários a uma crise financeira e perder tudo ao ponto de pedir dinheiro na rua e o drama de duas mães, até jovens, com a perda dos seus filhos, sendo um vítima de bandidos e o outro um bandido vítima de si mesmo.
Que situação…
Flávio Rezende aos dois dias do mês nove do ano 2016.
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