Poesia e tecnologia estão lado a lado na mostra “Auta para Todos”, lançada na tarde desta segunda-feira (8), na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Norte.
Promovida pelo Memorial do Legislativo Potiguar, a exposição terá raros manuscritos da poetisa potiguar Auta de Souza, que ficarão no Salão Nobre Iberê Ferreira de Souza, no Palácio José Augusto, sede do Legislativo.
Além dos itens históricos, será possível ouvir poesias recitadas por Auta de Souza através de recursos de inteligência artificial.
Renomada poetisa brasileira, Auta de Souza nasceu em Macaíba, em 12 de setembro de 1876. Reconhecida por sua sensibilidade poética e profundidade emocional, Auta é considerada uma das principais representantes do Simbolismo no Brasil.
Sua obra é marcada por temas como amor, religiosidade e morte, abordados com uma linguagem lírica e simbólica, repleta de metáforas e imagens vívidas.
Entre seus principais trabalhos está o livro póstumo “Horto”, publicado em 1900, que reúne uma seleção de seus poemas, onde a autora explora o eu lírico feminino e a espiritualidade de forma introspectiva e contemplativa. O livro, inclusivo, será relançado em fac-símile em edição que conta com participação da Assembleia Legislativa.
“A Assembleia Legisltiva tomou uma posição diferente de um ano para cá. Decidiu homenagear os grandes nomes da história potiguar. Quaisquer pessoas que colocaram o nome do estado em um ápice, a ALRN tem obrigação de homenagear. Homenagear a cultura, a defesa, o povo do Rio Grande do Norte. E isso foi feito pela escolha unânime da Mesa Diretora pelo nome de Auta de Souza. É a primeira que estamos fazendo. Figura ímpar na poesia e cultura do Rio Grande do Norte“, disse o diretor-geral da Assembleia Legislativa, Augusto Carlos Viveiros.
Contando com a presença de intelectuais e familiares de Auta de Souza, o lançamento teve uma rica discussão sobre a obra de Auta de Souza, caracterizada por uma profunda introspecção e uma conexão íntima com a natureza e a espiritualidade.
No encontro, foram discutidas as inspiraçõs e particularidades de sua escrita, que expressam, muitas vezes, uma busca pelo divino e uma reflexão sobre a vida e a morte.
“No período em que viveu Auta de Souza, a educação feminina era absolutamente excludente. Era limitada ao ensino das primeiras letras e quatro operações aritiméticas, quando depois ela estaria pronta para assumir seu lugar no lar. Como se ali sintetisasse o valor da mulher na sociedade. Auta vai muito mais além porque, quando se escrevia um poema, vamos perceber que a poesia naquela época era feita com técnica, mas sem alma e sem coração, sem sentimento. E Auta escreve com sentimento. É do coração que ela passa a olhar para todos os luigares“, analisou o pesquisador e escritor especialista na autora, Carlos Castim, que proferiu uma palestra sobre a poetiza junto ao também pesquisador Fábio Fidélis. Ambos são idealizadores do Instituto Auta de Souza.
“Esse é o diferencial de Auta de Souza que a faz escrever uma obra em que ela passeava por todas as escolas literárias. Vamos encontrar em Auta uma poetiza autônoma, liberta e capaz de sensibilizar as pessoas porque ela escrevia poesia com o coração, o que não era algo pensado”, analisou Castim.
Apesar de ter falecido precocemente, aos 26 anos de idade, ela deixou um legado significativo na literatura brasileira. Seus poemas continuam a ser estudados e apreciados pela sua profundidade emocional e pela maneira como capturam a essência da condição humana, tornando-a uma figura imortal na história da literatura nacional.
“Mergulhar no universo de Auta é descobrir um mundo envolvente, de sensibilidade e criatividade. Auta escreve um poema chamado Tudo Passa. Tudo passa mesmo, menos ela. Auta não passou e até hoje estamos discutindo, falando, sobre a poesia de Auta de Souza”, finalizou Castim.
Durante o lançamento, Augusto Carlos Viveiros, em nome da Assembleia, concedeu placas em homenagem a personalidades e instituições que mantêm viva a obra e o legado de Auta de Souza, como o Complexo Educacional Noilde Ramalho, o Instituto Auta de Souza e a sobrinha neta da homenageada, Maria Lúcia Zarzar.
Ao final da solenidade, os presentes apreciaram a exposição que, além de manuscritos e itens históricos, tem cinco banners com QR Code levando a vídeos produzidos a partir de inteligência artificial, onde os visitantes pode ouvir e visualizar a poetisa declamando cinco dos seus poemas, com a voz de Cíntia Costa.
A exposição está aberta ao público das 8h às 14h, até o dia 19 de abril, no Salão Nobre da Casa.
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