Audiência na ALRN aborda tema da Campanha da Fraternidade em que a educação vai além da escola.
Redação/Blog Elias Jornalista
A Campanha da Fraternidade 2022: “Fraternidade e Educação. Fala com sabedora, ensina com amor” foi tema de audiência pública que aconteceu na manhã desta segunda-feira (21), na sede da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Norte. A iniciativa da proposição foi do deputado estadual Francisco do PT, que reuniu representantes da comunidade católica e da educação para debater sobre o assunto.
Ao abrir os trabalhos da audiência pública, o parlamentar Francisco do PT lembrou do momento em que estamos enfrentando, que, nas palavras dele, são tempos complicados e agitados. “Estamos face a face com desafios globais sem precedentes, notamos mudanças climáticas, ecológicas, crises financeiras e econômicas, vivemos fome, doenças infecciosas, o mundo todo foi abalado com a pandemia que tem ceifado milhões de vidas. É exatamente nesses momentos que mais precisamos de Fraternidade e Educação”, alertou.
“A ação conjunta da Fraternidade e da Educação são decisivas para que nós possamos nos aproveitar das virtualidades humanas e da realização plena de suas ações educativas que, para além da educação formal e escolar, propicie o humanismo integral e solidário, a cultura do encontro, a promoção e o acolhimento da paz, em detrimento do ódio, e o cuidado com a casa comum”, completou.
O deputado estadual Hermano Morais (PSB), coautor da audiência pública, por sua vez, comentou que o Poder Legislativo tem que estar presente nas grandes discussões de interesse da sociedade. Ele lembrou que a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), pela terceira vez, pauta a educação como o assunto a ser tratado na Campanha da Fraternidade.
“Este ano o lema bíblico é ‘fala com sabedoria, ensina com amor’. Trata-se de uma preocupação com o ensino integral, com a oportunidade aos jovens de uma educação de qualidade, em um período em que se verificam falhas ainda na Educação pública e privada no País. A educação é o caminho da libertação, a oportunidade de promovermos a justiça social”, opinou. O deputado mencionou a evasão escolar agravada pela pandemia e outros aspectos da educação a serem levados em consideração.
O coordenador estadual da Campanha da Fraternidade, o padre Robério Camilo da Silva, explicou que os temas se repetem porque não se resolvem. “A Educação precisa ser repensada, porque o mundo mudou, as relações mudaram e a grande preocupação da CNBB, em sintonia com o Papa Francisco, é com a fraternidade. A fraternidade do mundo está ameaçada, bem como o humanismo integral e solidário. Se não fortalecermos a Fraternidade teremos um grande prejuízo no mundo porque vamos fortalecer as guerras. Uns contra os outros, sem respeito”.
Padre Robério explicou que a Campanha da Fraternidade deste ano objetiva promover o diálogo, a partir da realidade educativa do Brasil, a luz da fé cristã, propondo caminhos em favor do humanismo integral e solidário.
A coordenadora do curso de Pedagogia da UFRN, no CERES/Caicó, Francileide Batista de Almeida Vieira, falou sobre a importância da educação para o desenvolvimento do homem. “A Campanha da Fraternidade nos faz refletir sobre um lema de muito valor, que é ‘fala com sabedoria, ensina com amor’. Sendo nós seres culturais, sabemos da importância dos processos sociais aos quais somos submetidos para o nosso desenvolvimento. Educar não é um caminho para a humanização, educar é o caminho”, disse.
“Esse reconhecimento coletivo do valor da educação e essa temática certamente nos despertará para que possamos, a cada dia, desenvolver práticas educativas coerentes com essa proposição. Educar com amor significa que um homem não funciona apenas no seu intelecto, mas estamos pensando em práticas educativas que considerem a dimensão do intelecto, do afeto, das motivações, da ética, da solidariedade. Assim, certamente contribuiremos para este homem que aprenda a cuidar da nossa casa comum”, acrescentou a coordenadora do curso de Pedagogia.
Jefferson Fernandes, que é diretor do Centro de Educação da UFRN, enfatizou a ideia do pacto estadual. Segundo ele, não é possível pensar na educação se não houver espírito dialógico e colaborativo. Ele mencionou o esforço da UFRN em estabelecer uma cultura do diálogo e da inclusão, inclusive com parcerias para pensar a educação de forma articulada e dialógica. “O princípio do processo educativo implica estar com o outro, pensar a educação integral com corte humanista é o elemento fundante para pensar o processo de construção do outro e de si mesmo. Essa é a base orientadora do pensamento do professor Paulo Freire. Não é possível pensar a educação sem pensar no cuidar do outro”, lembrou.
O presidente da Federação dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares do Rio Grande do Norte (FETARN), Manoel Cândido da Costa, destacou a importância de termos um mundo fraterno e humano. “Pelo que acontece hoje, a gente se pergunta o que a Nação está pensando. Estamos assistindo, no Brasil, o desprezo total com os cuidados com a pandemia, por parte de governantes que deveriam ser responsáveis por isso. Bem como, vemos a Ucrânia sendo totalmente dizimada pelo poder das armas. O que vamos fazer para que o gesto humano venha a acontecer entre nós? O caminho é nos reunir, conversar, debater, fazer com que a humanidade procure se envolver mais, em nome de Deus, rezando mais, participando dos debates, das discussões”.
O reitor do IFRN, José Arnóbio de Araújo Filho, também esteve na ocasião contribuindo com o debate. “O nosso País tem uma dívida com a sociedade muito grande através da educação, afinal, muitos homens e mulheres deixaram de ter acesso à educação por falta de políticas públicas. Isso se perpetua até hoje e, durante a pandemia, também é fato. Vivenciamos isso na nossa Instituição e através de estudos que mostram que isso aconteceu no mundo todo, pela falta de políticas e de assistência do poder público”, narrou.
“Como dizia Paulo Freire, educação é um ato de amor, por isso, um ato de coragem. Não se pode temer o debate, ele é salutar para o fortalecimento das nossas ações, a análise da realidade. Não se pode fugir da discussão criadora, sob pena de ser uma farsa. Quando a gente não abre esse espaço nas nossas escolas, a gente faz como que esses estudantes não cresçam enquanto pessoas”, completou.
O professor dirigente do Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do RN (SINTE/RN), Miguel Salustiano de Lima, parabenizou a CNBB por abordar mais uma vez o tema da educação. “Nesses tempos difíceis que estamos vivendo, de negacionismo, de políticas ultraliberais, o meio ambiente, a educação e inclusão social são os alvos principais. A temática abordada pela Campanha da Fraternidade pode ser decisiva para recolocar a educação brasileira na centralidade do projeto de um novo País que queremos construir. A educação que emancipa tem que ser fraterna, pois a fraternidade é o caminho do amor, é olhar para o próximo com compaixão, acolher sem julgamentos”, disse.
Ele destacou que, na educação do País, a Educação pública é a mais inclusiva. E lembrou que a melhoria da educação também passa pela valorização dos profissionais, através de salários dignos, carreira, formação continuada e condição de trabalho.
Por fim, a secretária adjunta da Secretaria de Educação do estado, Márcia Gurgel, falou que se trata de uma temática extremamente relevante. “Tem um provérbio africano que diz que é preciso uma aldeia inteira para educar uma criança. Temos uma dimensão de educação em sentido amplo, que humaniza, forma. E a educação escolar. O desenvolvimento humano acontece na aldeia toda. Por isso que precisamos de uma cidade educadora”, disse.
“A gente precisa investir muito no processo educativo que avance na perspectiva de que nenhum homem seja violentado, nem explorado por outro homem. Pensar em uma Educação de uma fraternidade humanitária é pensar na superação da exploração da dominação de um ser sobre o outro, inclusive sobre a natureza. É fundamental pensarmos na educação escolar em outros princípios, em outro projeto político pedagógico para incluirmos valores, porque educação não é só ensinar português e matemática”, completou.
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