A deputada estadual Cristiane Dantas (Solidariedade) comandou, na manhã desta sexta-feira (02) na Assembleia Legislativa, audiência pública para discutir sobre saúde pública e apresentar o projeto “Salvando pernas: a saúde vascular e a prevenção de amputações no Rio Grande do Norte”.
“Estima-se que cerca de 8% da população potiguar têm diabetes, o que equivale a mais de 250 mil pessoas. Doença caracterizada pelo aumento de glicose em circulação no sangue decorrente da insuficiência ou da má absorção da insulina e junto com ela uma série de complicações que comprometem o bem-estar e a vida do paciente como doenças cardíacas, a amputação dos pés e pernas, o chamado pé diabético”, disse Cristiane, justificando a importância do debate que, nesta audiência, contou com a participação de médicos, gestores e Ministério Público.
“Segundo os médicos especialistas que participam conosco deste debate, é grande o número de amputações de pé diabéticos que poderiam ser evitadas”, ressaltou a deputada, lamentando que em muitos casos os pacientes relatam a dificuldade de acesso aos protocolos clínicos, “desde do acompanhamento médico até o recebimento das medicações para o controle da diabetes, como é o caso da insulina”. Cristiane Dantas lembrou da importância do Hospital Ruy Pereira, que em 2018 realizou 1.363 cirurgias, sendo 242 amputações. “Hoje a realidade é cruel. Existe uma fila imensa de pacientes à espera de amputações”.
Fizeram parte da mesa de debates sobre o tema, a convite do mandato da deputada, os angiologistas e cirurgiões vasculares Cristiane Antonângelo Torralba, Gutenberg do Amaral Gurgel (que também é cardiologista), Márcio Villar de Freitas, que preside a Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular, e Ricardo David de Souza Moraes, que atua em Goianinha. Também compuseram a mesa o secretário de Saúde de São José de Mipibu, Jeferson Oliveira, as representantes do Hospital da Polícia Militar, Patrícia Albuquerque e Ana Paula Leal, a promotora de Justiça da Saúde, Iara Maria Pinheiro de Albuquerque.
“A amputação para um especialista é o fracasso do seu trabalho. Nós trabalhamos para salvar membros”, disse o médico Márcio Villar, ressaltando o grande número de membros amputados, mas também o grande número de membros salvos.
Sofrendo na pele o dilema de perder ou não perder um membro do corpo, Régia, filha de um paciente que vive o dilema de perder um membro e está numa fila de espera, chorou ao relatar as dificuldades encontradas na saúde pública que vem sendo enfrentadas pelo pai. “Meu pai tem 90 anos”, alertou a filha desesperada, afirmando que o pai é pré-diabético e uma das causas do problema que ele vive foi o cigarro.
Representando o Hospital da PM, Patrícia Albuquerque falou do dilema que profissionais de saúde enfrentam tendo que mandar para casa, por falta de leitos, pacientes que precisariam ficar internados. Também do Hospital da PM, Ana Paula Leal, que atua na Regulação, ressaltou que, para os 30 leitos, hoje há uma fila com mais de 170 pacientes esperando. “Existe uma grande angústia quando o leito está livre”, referindo-se à escolha de quem vai ocupá-lo, vez que, além da fila de pacientes graves, há uma demanda judicial a ser cumprida, onde em muitos casos os pacientes têm necessidades menos graves. “Muitas vezes o paciente chega na ânsia de ficar internado, já com papéis preenchidos, mas a gente manda de volta para casa”, lamentou Ana Paula. O secretário de Saúde de São José de Mipibu, Jeferson Oliveira ressaltou que muitas vezes o paciente fica mais de 6 meses na fila de espera, e quando são chamados para a cirurgia, eles já morreram.
A promotora de Justiça Iara Pinheiro, da Promotoria da Saúde no Ministério Público, traçou um paralelo para relatar avanços na Saúde Pública, mesmo reconhecendo que ainda foram insuficientes. “Sou da época em que me espantava muito com o que via no Walfredo Gurgel”, disse a promotora, lembrando que houve um tempo em que sequer havia fluxo, e que, se as filas hoje são numeradas, é porque os problemas passaram a ser enxergados. Ela falou sobre o papel do Ministério Público para a abertura do Hospital Ruy Pereira, e o porquê do mesmo MP acatar o seu fechamento, citando problemas no prédio que abrigava a unidade – um prédio de herdeiros com problemas judiciais – lembrando que em muitos casos o paciente ficava internado sem os procedimentos que lhes eram necessários.
Segundo a promotora Iara Pinheiro, os 80 leitos do Ruy Pereira nem sempre funcionavam na totalidade, e eles foram substituídos por 60 que funciona, sendo 30 no Hospital da Polícia Militar e 30 no Hospital João Machado. “Só que veio a pandemia e esses leitos não puderam mais ser assegurados. Se não fosse a pandemia essa fila hoje seria muito menor”, disse a promotora, que fez críticas à atuação do Hospital Onofre Lopes, que apesar da importância para a rede SUS, muitas vezes “não cumpre o papel para o qual é contratado”.
Falando sobre o projeto “Salvando pernas: a saúde vascular e a prevenção de amputações no Rio Grande do Norte”, a médica Cristiane Torralba falou da importância do debate na Assembleia sobre o projeto para que este seja posto em prática. E alertou para problemas que muitas vezes aparecem no dedo do pé, mas fazem o paciente perder a perna. “Muitas vezes pela falta da atenção básica”, disse a profissional, que se emocionou ao falar da dor que muita gente não enxerga. “A nossa proposta é para salvar o membro de alguém que está morrendo com vida”, encerrou a médica que desenvolveu o projeto em conjunto com o cirurgião vascular e cardiologista Gutenberg Gurgel.
Gurgel explicou sobre o projeto desenvolvido incluindo projetos que já funcionam em outros estados e adiantou que passos já foram dados com a apresentação a gestores públicos. O médico afirmou que hoje se morre mais por doenças vasculares do que de câncer de mama. O médico fez um relato do episódio ‘Ruy Pereira’, da abertura em tempo recorde até o seu fechamento, das dificuldades enfrentadas na saúde pública por falta de dinheiro, ressaltando que infraestrutura e profissionais já existem e agradeceu a deputada Cristiane pelo debate que poderá virar lei. “Esse projeto já foi mostrado para o ministro da Saúde, ele ficou muito animado, mas, infelizmente, como política, a gente termina saindo um pouco do foco porque agora tem que ter eleição para poder recomeçar tudo, e quem for eleito a gente vai lá de novo bater na porta e aproveitar o projeto”, justificou Gutenberg Gurgel. “Esse projeto vai ser iniciado no Rio Grande do Norte mas tem força nacional, que é de onde vem o dinheiro”, encerrou o médico.
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