Redação/Blog Elias Jornalista
Sessão presidida pelo Senador Jean reuniu viúva e filho do Patrono da Educação Brasileira, Mario Sergio Cortella, governadora Fátima Bezerra, entre outros nomes
O Senado realizou, nesta segunda-feira (20), uma sessão especial destinada a comemorar o centenário do educador Paulo Freire, Patrono da Educação Brasileira. Com a experiência de vida, estudo e trabalho com pessoas de baixa renda que não sabiam ler nem escrever, Freire desenvolveu um método de alfabetização que leva em conta a vivência e o contexto do aluno. O método foi considerado revolucionário após a marcante experiência realizada no município de Angicos, no sertão potiguar, em 1963. Conhecida como “40 horas de Angicos” – ganhou repercussão nacional e internacional.
“Cada vez que um professor insiste em dar aulas nesta pandemia, com internet precária, que ele mesmo tem que pagar, eu vejo um Brasil prestando um tributo a Paulo Freire. Todas as vezes que um profissional da educação, seja professora, merendeira, vigilante, faxineiro de escola pública, respira fundo e cumpre sua jornada, apesar do desmantelo de suas condições de trabalho, está honrando a luta de Paulo Freire”, afirmou o senador Jean, autor da proposta que originou a sessão.
O parlamentar potiguar destacou ainda que a educação maiúscula, que tem Paulo Freire como seu patrono, é um sol que sempre vai vencer a treva e aquecer os corações e mentes vocacionados à liberdade e à felicidade que habitam a maioria do povo brasileiro.
“Eu vi Paulo Freire em cada um dos secundaristas que ocuparam suas escolas para resistir à reforma do ensino médio, um projeto que quer adestrar nossos adolescentes para apenas apertar parafusos e botões. Vejo Paulo Freire na luta das universidades e dos institutos federais para preservar a sua capacidade de produzir conhecimento, de fazer ciência, tecnologia e inovação. Nós honramos Paulo Freire em cada ato de resistência aos ataques à liberdade de cátedra Paulo Freire presente hoje e sempre”, completou.
Legado
O livro “Pedagogia do Oprimido”, escrito em 1968, por Paulo Freire, é o terceiro mais citado em trabalhos acadêmicos sobre ciências sociais em todo o mundo. Seu método de ensino é adotado em diversos países.
Ele também é detentor de nada menos do que 35 títulos de Doutor Honoris Causa concedidos por prestigiadas instituições. Um desses títulos é o da Universidade de Bolonha, a mais antiga do Ocidente e que está prestes a completar 1.000 anos de funcionamento.
“Meu pai era um homem do mundo. Ele era um homem da realidade do mundo. Todo o seu pensamento vinha dessa relação com o mundo. Ele nos deixou um legado enorme, um legado de vida, um legado de amor, um legado de conscientização, um legado de alfabetização, um legado de um mundo mais justo, um legado de um mundo menos diferente entre os mais ricos e os mais pobres neste mundo”, declarou o filho do educador e coordenador dos Arquivos Paulo Freire do Instituto Paulo Freire em São Paulo, Lutgardes Costa Freire.
Nita Freire , esposa do educador, lembrou que Paulo Freire nunca foi um intelectual capaz de sentar-se e ficar procurando inspiração num tema ou noutro, escrevendo e rasgando papel.
“Ele foi um homem que estava sempre atento às coisas da realidade, sempre voltado para o cotidiano e a realidade. E, quando ele se sentava à sua mesa, ele sabia o que queria escrever, e ele sabia o que deveria escrever para ajudar todos a se conscientizarem da necessidade de uma transformação radical da sociedade brasileira”.
Orientado por Paulo Freire em sua tese de doutorado, o filósofo Mário Sérgio Cortella, afirmou o quanto Paulo Freire tem, de fato, de ser celebrado no país, mesmo que existam pessoas que fiquem absolutamente incomodadas, apelidadas pelo professor de democracidas.
“Que bom nós nos juntarmos para fazer o bom e o belo, a ética e a estética, as belas homenagens e as descentes homenagens ao Professor Paulo Freire. (…) A maior beleza daquilo que ele produziu, no meu entender, foi recusar-se a afastar, a deixar de lado aquilo que seria o vaticínio de nós termos uma população que fosse apenas público, sem que houvesse a condição também, no seu modo, que seria historicamente situado, de ser também povo ativo, essa população decisiva e, claro, livre”, ressaltou.
Críticas
A governadora do Rio Grande do Norte, professora Fátima Bezerra, fez duras críticas ao governo federal, que tem atacado a memória e o legado do educador.
“É nosso dever zelar pelo legado de Paulo Freire. Não estamos falando de uma personalidade qualquer. O trabalho de Paulo Freire foi exatamente ensinar o povo pobre, o oprimido, não apenas a ler e a escrever, mas a compreender o mundo e a lutar por seus direitos. É essa, exatamente, a essência do trabalho dele”, disse. “A educação tem que ser olhada como um direito de cidadania, porque ela é fundamental – fundamental –para a conquista da cidadania, para a conquista de uma vida com dignidade e com direitos”, completou.
Na mesma linha da governadora, o Ex-Secretário da Educação do Estado de Sergipe e Ex-Presidente do Conselho Nacional de Educação, José Fernandes de Lima, enfatizou que as orientações de Paulo Freire continuam atuais.
“Quando as escolas estão enfrentando dificuldades para se reinventar diante dos danos causados pela pandemia; neste momento, quando nós lidamos com um Governo que tem dificuldade de entender a importância da educação para o desenvolvimento do País; neste momento, quando a falta de acesso à escola contribui para o aumento das desigualdades, as escolas necessitam, mais do que nunca, utilizar os ensinamentos de Paulo Freire”, criticou.
O presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação e coordenador do Fórum Nacional Popular de Educação (FNPE), Heleno Araújo, declarou a importância da realização da Conferência Nacional Popular de Educação 2022 (Conape 2022), como forma de reflexão do legado de Paulo Freire.
“A homenagem dos segmentos que atuam na educação e os setores organizados no FNPE, que defendem a escola libertadora, dialogam em todo o Brasil com a CONAPE 2022”, destacou.
A Sessão reuniu também o mestre em Direito Internacional do Desenvolvimento, Marcos Guerra; o Presidente da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação, Luiz Miguel Martins Garcia; e a Professora Emérita e Catedrática da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto – Portugal, Doutora Luiza Cortesão
Também esteve presente no evento representantes da Organização Todos Pela Educação, da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo e do Movimento Social de Educação Popular.
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