Redação/Blog Elias Jornalista
O educador é o patrono da educação brasileira, título proposto pela deputada Luiza Erundina e sancionado pela presidenta Dilma Rousseff em 2012.
Um dia depois da inauguração de uma escultura em homenagem a Paulo Freire no Pico do Cabugi, no interior do Rio Grande do Norte, a governadora Fátima Bezerra participou nesta segunda-feira (20) da Sessão Especial do Senado Federal em homenagem ao centenário do educador, que é patrono da Educação Brasileira. A sessão virtual foi presidida pelo senador Jean-Paul Prates e teve a participação de 27 convidados, entre eles a viúva Nita Freire e o filho Lutgardes Costa Freire, o filósofo Mário Sérgio Cortella, Luiz Miguel Martins, presidente da Undime Nacional, e o professor Marcos Guerra, que participou da experiência de Angicos-RN, em 1963.
O senador Jean-Paul Prates lembrou o método de educação popular, conhecido mundialmente como as “40 horas de Angicos”, no qual Paulo Freire trabalhou na alfabetização de adultos com imenso sucesso. Angicos hoje tem cerca de 12 mil habitantes e sua economia tem como base a produção rural. Entre janeiro e abril de 1963, há 58 anos, na gestão do então governador Aluízio Alves, às margens do rio Pataxó, nos tempos do algodão mocó, considerado um dos melhores do mundo, Paulo Freire implementou um projeto de alfabetização para 380 trabalhadores e trabalhadoras.
Freire desenvolveu a crença de que se deve educar para transformar, através de uma pedagogia centrada na percepção de que é imprescindível focar dialeticamente em quem aprende e na valorização da realidade vivida pelo aluno, visando à consciência crítica e à educação como sinônimo de prática de liberdade. Não bastava apenas saber ler mecanicamente “Eva viu a uva”, mas sim questionar – Quem é Eva? Onde ela mora? Como a uva é produzida? Quem lucra com a produção da uva? Quais são os direitos de Eva?
Fátima Bezerra, que no domingo passado conversou com ex-alunos de Paulo Freire (15 dos 300 ainda estão vivos), disse que é dever do Brasil zelar pelo legado daquele que usava a educação não apenas para ensinar a ler e a escrever, mas a compreender o mundo e a lutar por seus direitos. Um desses ex-alunos, conhecido como Paulo “Carroça”, dizia o quanto foi decisivo para sua vida tirar a cegueira dos olhos ao aprender a ler, escrever e a compreender o mundo. “Não estamos falando de uma personalidade qualquer, mas de um homem reconhecido em todo o mundo, que tem a Pedagogia do Oprimido traduzida para mais de 20 idiomas.”
Paulo Freire costumava afirmar que “ninguém ignora tudo, ninguém sabe tudo”. Em sua pedagogia cabe a quem ensina reconhecer, acolher e respeitar o saber de quem aprende, pois acreditava não existir um saber único, absoluto, mas os saberes de cada um, de cada povo, de cada comunidade, de cada indivíduo, empalidecendo a construção do conhecimento como mera transmissão de conhecimento, geralmente feito de cima para baixo.
Para a governadora, a melhor forma de homenagear Paulo Freire é “trabalhar para realizar os sonhos e as utopias dele, lutar por uma educação de qualidade, por uma ação mais eficaz de enfretamento do analfabetismo”. Ela lembrou que o Governo do RN está caminhando nesse sentido, com um grande investimento na educação básica, da ordem de R$ 400 milhões no programa Nova Escola Potiguar, que contempla um conjunto de ações estruturantes a fim de iniciar um novo momento da educação do Rio Grande do Norte.
“As 40 horas em Angicos, depois em Natal, nas Quintas e, posteriormente, em Mossoró, comprovam de forma irrefutável os resultados positivos da experiência que precisa ser retomada”, defendeu o professor Marcos Guerra. Tendo como base estudos de educadores, ele citou um dado preocupante: “o Brasil tem hoje mais analfabetos, em número concreto, do que tinha em 1963.”
O senador Jean-Paul Prates, que presidia e mediava a sessão, afirmou que “Paulo Freire é hoje um nome cuja relevância não sofre qualquer contestação acadêmica no exterior. Contudo, em sua pátria correm cada vez mais as vozes da desinformação e obscurantismo, e procuram contestá-lo em suas ideias políticas. As vozes, na maioria das vezes, sequer conhecem sua obra, mas tentam desmerecê-lo atribuindo-lhe mazelas do país”.
Jean-paul encerrou a sessão especial lendo o que ele considera o lema da Pedagogia do Oprimido: “Aos esfarrapados do mundo e aos que nele se descobrem e assim descobrindo-se, com eles sofrem, mas, sobretudo, com eles lutam.”
Também participaram da sessão solene os senadores Leila Barros, Zenaide Maia, Esperidião Amin, Fabiano Contarato, Flávio Arns, Humberto Costa, Jaques Wagner, Paulo Paim, Randolfe Rodrigues e Veneziano Vital do Rêgo.
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