Marca Maxmeio

Postado às 12h01 BrasilDestaque Nenhum comentário

Dr. Fabiano de Abreu, neurocientista e jornalista científico.

Redação/Portal de Notícias e Fotojornalismo/eliasjornalista.com

Dr. Fabiano de Abreu, neurocientista e jornalista científico detalha os riscos do jornalistas em doenças como AVC e fadiga 

Não é segredo para ninguém que os profissionais da imprensa precisam atender a um grande volume de informações e estar sempre um passo à frente dos acontecimentos para cobrir as mais diversas situações que se desenrolaram por conta da pandemia. Afinal, um dos pontos mais estressantes da profissão é a necessidade de conseguirem o “furo” da notícia, aquela que ninguém publicou, aquela exclusiva, e para isso, eles precisam se colocar em risco para entregar resultados diários.

Além de tudo isso, soma-se a responsabilidade do próprio nome como profissional, preocupando-se com a auto imagem e o estresse do trabalho árduo. Juntando todos estes fatores, o neurocientista e jornalista Fabiano de Abreu alerta que tudo isso pode levar a um alarmante processo de desequilíbrio que pode culminar no desenvolvimento de doenças como o AVC e a fadiga crônica.

 

Segundo Abreu, “podemos comparar com o trabalho no mercado financeiro, na bolsa de valores, onde a pressão por resultados é alarmante, e os gritos podem surgir de todos os lados. Afinal, a cobrança do jornalista não vem apenas da audiência, mas também da velocidade com que precisam entregar as informações e apurar tudo para não passarem notícias falsas ou erradas. Por isso, em seus cotidianos, recebem uma enxurrada de informações e precisam estar atentos a todo instante”, explica o neurocientista.

O caso mais recente de um comunicador vítima de estresse foi o do apresentador da Rede TV!, Marcelo Bennesby, de 53 anos. Ele sofreu um princípio de Acidente Vascular Cerebral (AVC), e passou por uma cirurgia após passar mal, com fortes dores no peito, dor de cabeça e mal-estar no primeiro dia deste ano. Ele ainda está internado.

Em 2015, a repórter Leniza Krauss também sofreu um AVC enquanto cobria uma matéria policial para a Rede Record. Ela tinha apenas 37 anos na época. Após o ocorrido, ela decidiu pedir demissão e não se arrependeu. Em entrevista ao UOL, ela disse: “Combinei comigo mesmo de ser menos estressada”.

Fatores que levam ao estresse

Há dois fatores cruciais que podem levar os jornalistas a desenvolverem essas doenças, destaca Fabiano de Abreu: “Um deles é a ansiedade que aumenta conforme a gravidade da notícia que precisam comunicar e cobrir. Quanto maior for o jornal, maior a demanda, e maior a cobrança por resultados e ‘furos’ exclusivos”. Além disso, “alguns jornalistas usam a ansiedade a seu favor para terem um melhor desempenho, até porque ela bem aplicada pode favorecer a criatividade. Pode até parecer estranho, mas ela ajuda o nosso processo criativo”.

Outro problema é que, com a pandemia, não só a demanda aumentou, como também o risco com a exposição excessiva para cobrir as notícias não é favorável. “Não podemos ser negacionistas. A realidade enfrentada pelos jornalistas nesta pandemia, uma doença mortal, provocou a alteração total da nossa rotina e das nossas vidas. Ainda por cima ocasionou mudanças em nosso cérebro, mais precisamente em nossos mensageiros químicos”, reforça Abreu.

Como o estresse ocorre no corpo

O neurocientista explica o que acontece no corpo quando a pessoa está sendo vítima do estresse: “Cada meta conquistada, seja um like no Instagram, uma notícia com audiência, um furo de reportagem, uma promoção, qualquer conquista, cada desejo realizado faz com que nosso corpo libere dopamina, que é o hormônio da recompensa”.

Só que “a dopamina é viciante, queremos sempre liberar mais, faz parte do instinto, se ela não existisse não teríamos vontade de conquistar nada, o problema é que a usamos de maneira diferente no processo evolutivo. E é nesse momento que a ansiedade aparece, sem ela, não teríamos a pulsão para buscar a conquista”.

Isso mostra que no cenário atual, “estamos todos vivendo níveis altos de ansiedade e os jornalistas foram afetados tanto quanto os profissionais da saúde, de maneiras diferentes, mas com grande intensidade. Mais ansiedade; mais doenças, risco de vida, receio econômico, tudo isso faz ativar o instinto de sobrevivência, no sistema límbico das emoções, na amígdala cerebral onde estão armazenadas memórias negativas como traumas, medos, etc”, destaca o neurocientista.

É importante observar ainda que esse sistema é necessário para que possamos saber se aquilo é perigoso ou não para as nossas vidas: ”O problema é que nosso cérebro não distingue o ataque do leão com o medo de perder o emprego por exemplo, na verdade, apenas varia a potência do problema”, sintetiza Fabiano.

Como funciona o processo:

A pandemia elevou a ansiedade, que por sua vez, ativou nosso modo sobrevivência, que buscou memórias da amígdala, levando-as ao lobo pré-frontal da consciência. “Quando não resolvemos os problemas, até porque não podemos matar o vírus e nem resolver a economia ou reaver o emprego, a ansiedade é maximizada e o estresse passa a tomar conta de tudo. Com ela elevada, assim como o estresse, alteram-se os níveis de cortisol, hormônio que controla a nossa imunidade, na tentativa de eliminá-los”.

Aí que está um grande problema, salienta Abreu: “A função do cortisol é ajudar a reduzir a inflamação do corpo, mas quando ele é constantemente injetado, torna-se resistente comprometendo o sistema imunitário. Desta forma ele se torna menos eficiente contra agentes externos, podendo causar fadiga e doenças devido à baixa imunidade”.

O resultado disso é que, quando está em níveis normais no corpo, age no controle dos leucócitos (glóbulos brancos), células do sistema imunológico, mas com a ansiedade constante e o estresse, há um aumento na sua produção. “Os glóbulos brancos quando produzidos em excesso podem se acumular nas paredes das artérias, reduzindo o fluxo sanguíneo e favorecendo a formação de coágulos, elevando o risco de doenças cardiovasculares, entre elas o AVC”, sintetiza o neurocientista.

Além do AVC, Fabiano de Abreu cita uma outra situação perigosa para os comunicadores: “O jornalismo é uma das profissões com maiores chances de desenvolver a Síndrome de Burnout, por exemplo, outra doença que leva a fadiga e a uma condição de estafa mental ligada ao estresse que pode colocar em risco a vida do profissional”.

Diante de tantos riscos, Fabiano reforça que “é preciso que exista um cuidado preventivo constante para jornalistas que correm riscos diários, sem precedentes. Eles prestam um serviço necessário para a garantia da democracia e merecem todo o nosso respeito”, completa.

Fonte: Raphael Lucca – MF Press Global

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *