Sessão solene comemora Dia Estadual da Caridade com homenagem ao potiguar Padre João Maria.
A sessão solene ao Dia Estadual da Caridade aconteceu nesta quarta-feira (16), no plenário da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Norte, e fez parte da programação especial que marca a abertura do ano jubilar dos 120 anos de morte do potiguar padre João Maria Cavalcanti de Brito. Na ocasião também houve o descerramento da placa que ficará na Paróquia de Nossa Senhora de Lourdes em homenagem ao padre.
A data de 16 de outubro como Dia Estadual da Caridade entrou no calendário oficial de eventos do Rio Grande do Norte e foi instituída na Casa Legislativa pela Lei 11.861 de 2024, de iniciativa do presidente da Assembleia Legislativa, o deputado Ezequiel Ferreira (PSDB). Ela será celebrada anualmente com a promoção de campanhas e eventos que estimulem a doação e o voluntariado.
“Nosso Rio Grande do Norte é repleto de exemplos inspiradores de homens e mulheres que dedicam a vida à caridade, seja por meio de voluntariado ou de outros gestos que fazem a diferença. Hoje homenageamos cada uma dessas pessoas que constroem um legado de amor e esperança. Além disso, o Dia Estadual da Caridade foi criado para honrar a vida plena de um ícone, padre João Maria, no qual a caridade e o carisma o tornaram uma figura amada e respeitada por todos”, disse Ezequiel Ferreira.
O presidente da Assembleia Legislativa destacou que o Padre João Maria, mesmo quase 120 anos após sua morte, continua a inspirar. “Ele nos ensinou que a caridade tem o poder de dissipar o medo e acolher os aflitos. Embora não tenha sido formalmente canonizado, suas virtudes superam qualquer burocracia terrena. A caridade nos lembra que fazemos parte de um todo e que nossas ações ecoam além de nós mesmos”, completou.
O Padre Inácio Henrique de Araújo, que é Pároco da paróquia de Nossa Senhora de Lourdes e coordenador da comissão do memorial de Padre João Maria, agradeceu em nome de todos que fazem a Paróquia de Nossa Senhora de Lourdes pelo gesto de atenção. “A paróquia me fez compreender que aquele solo sagrado mostrava a guarida de um sacerdote que viveu de maneira verdadeira, na íntegra, o que nos ensina o santo evangelho. Logo no início do meu paroquiado, a manifestação daquele povo de Deus já me encantava. Nas missas, o elenco de agradecimento e intenções ao padre João Maria já mostrava que aquela igreja tinha muito a nos ensinar. A presença dele transcende estes séculos e o amor dele reforça no coração de cada um de nós que é preciso continuar acreditando no bem, no amor e na generosidade. Falar do padre João Maria vai muito além de palavras, precisamos viver na vida”, contou.
O presidente da comissão histórica do processo de beatificação do padre João Maria, José Rodrigues da Silva Filho, falou do desafio e da grande responsabilidade da busca das fontes históricas relacionadas à obra do Padre João Maria. “Ele era alguém que sempre esteve presente na memória e no amor do povo simples e das senhoras devotas. Era cantado em versos, em cordéis, mas, para o processo de beatificação e canonização, precisávamos achar em documentos históricos as provas da atuação dele”, explicou.
A sessão solene fez parte da programação especial encabeçada pela Paróquia de Nossa Senhora de Lourdes, localizada no bairro de Petrópolis, em Natal. A programação teve início no dia 9 de outubro, com o encerramento da fase diocesana da causa de beatificação e de canonização. Nesta quarta-feira (16) também foi celebrada missa, na Praça Padre João Maria, no centro da capital. Para além disso, no dia 20 de outubro, haverá uma carreata da solidariedade saindo da Igreja Matriz de Nossa Senhora da Apresentação (antiga Catedral), às 8h, com destino ao antigo leprosário de Natal, situado na Av. Capitão Mor-Gouveia, no bairro Cidade da Esperança.
Vida e obra de Padre João Maria
Padre João Maria Cavalcanti de Brito nasceu em Jardim de Piranhas, região do Seridó potiguar, em 23 de junho de 1848, e faleceu em Natal, em 16 de outubro de 1905. Com mais ou menos 12 anos, ingressou no Seminário de Olinda e só conseguiu estudar com a ajuda de parentes. Atuou no Seridó e, também, onde hoje é Nísia Floresta. Depois foi para Natal, onde se destacou como um homem de conciliação, sensível ao diálogo com as diversas forças da cidade.
O Padre João Maria fundou o primeiro órgão de imprensa católica do Estado, o jornal 8 de setembro, que recebeu este nome por ser a data litúrgica da natividade de Nossa Senhora. Uma das bandeiras do jornal foi a educação católica, incentivando para que Natal tivesse colégios católicos.
Ele também reuniu o povo na praia de Areia Preta e de lá fazia caminhadas penitenciais levando pedras para cavar onde hoje é a Catedral Metropolitana. O Padre também foi presidente da Associação Libertadora, sendo responsável pela emancipação de diversos escravizados no RN.
Por fim, ele viveu toda a vida como sacerdote em favor dos pobres e dos enfermos, em um Rio Grande do Norte do início do século XX, quando a região vivia uma seca e fome muito grave e um posterior surto de varíola. Padre João Maria foi o apoio e o suporte das pessoas que buscavam não só o alimento, mas também uma palavra de esperança. Cuidava dos enfermos e faleceu também de varíola. Morreu onde hoje é o altar da Igreja de Nossa Senhora de Lourdes.
Processo de beatificação
Com a conclusão da fase diocesana do processo de beatificação e canonização do padre João Maria, agora ele terá a história dele analisada pela Congregação para a Causa dos Santos, no Vaticano, com perspectivas de ser reconhecido por suas virtudes e, posteriormente, venerado pela Igreja.
O postulador da causa, o frei Jociel Gomes, entregará as documentações levantadas pelo tribunal instalado na Arquidiocese de Natal (RN) e ao dicastério romano caberá verificar se o processo ocorreu de acordo com as normas da Santa Sé para a emissão do decreto de validade jurídica e, em seguida, a nomeação do relator responsável pela “Positio”.
O material com os documentos sobre o padre foi apresentado no último dia 9, em cerimônia na Catedral Nossa Senhora da Apresentação, pelo arcebispo de Natal, dom João Cardoso. Essa etapa marcou a conclusão de um trâmite entre a arquidiocese e a Santa Sé que começou em 2002. O ato também abriu as comemorações do Ano Jubilar em memória aos 120 anos da morte do sacerdote.
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