A Assembleia Legislativa do RN realizou Sessão Solene, na tarde desta quinta-feira (13), por iniciativa dos deputados Hermano Morais (PV) e Francisco do PT, com o objetivo de celebrar a Campanha da Fraternidade 2023. Este ano, o tema da ação é “Fraternidade e fome”, e o seu lema, “Dai-lhes vós mesmos de comer”.
“A campanha deste ano traz, mais uma vez, um assunto de extrema importância a ser debatido na sociedade. A falta de acesso regular a uma alimentação adequada, por grande parte da população brasileira, tem sido um dos principais desafios enfrentados pelo País, ao longo dos últimos anos. De acordo com dados divulgados em meados de 2022, pela ONU, a quantidade de brasileiros que enfrentam algum tipo de insegurança alimentar ultrapassou a marca de 60 milhões de pessoas, ou seja, aproximadamente 1 em cada 3 cidadãos”, iniciou Francisco do PT.
Segundo o parlamentar, “a fome voltou, e é preciso falar sobre isso”. “Então, eu deixo o meu mandato à disposição para que possamos contribuir com ações e iniciativas de combate a esse mal que atinge a nossa sociedade. Além disso, quero dizer que é uma honra poder compartilhar essa sessão com o deputado Hermano, a respeito de uma temática tão importante para a vida das pessoas, que é a insegurança alimentar”, finalizou.
Em seguida, o deputado Hermano Morais deu início ao seu discurso lembrando que a Campanha da Fraternidade nasceu no RN, no distrito do Timbó, em Nísia Floresta.
“Depois, a iniciativa ganhou dimensão nacional e internacional, tornando-se uma campanha ecumênica, com a participação de toda a sociedade, sempre tratando de temas relevantes. E o assunto deste ano é a fome. Dessa forma, nós todos fomos convocados a refletir sobre esse problema que assola muitas pessoas, infelizmente”, disse.
Segundo o deputado, “nós temos fome de Deus, do seu amor, da sua misericórdia e da sua presença. Temos fome de paz, fraternidade e tudo mais que, de fato, nos humaniza. E, sobre a fome de comer, é algo tão simples, necessário e imprescindível aos seres humanos. Um problema tão antigo e infelizmente tão presente, que nos maltrata e nos empobrece, no sentido mais intrínseco que a palavra pode significar. O que ocorre quando o alimento não chega a todos os seres humanos? O que podemos fazer para amenizar esse problema? Essa é uma grande contradição para um País que produz e exporta alimentos para o mundo inteiro”, acrescentou.
Hermano Morais ressaltou ainda que a fome é um dos resultados mais cruéis da desigualdade e um desafio que não podemos deixar de enfrentar, pois ela acaba refletindo em toda a população.
“A Campanha da Fraternidade 2023 tem como objetivo geral sensibilizar a sociedade a combater a fome, por meio de compromissos que transformem essa realidade a partir do evangelho de Jesus Cristo. E alguns dos seus objetivos específicos são: revelar as causas estruturais da fome; acolher o imperativo da palavra de Deus, que nos conduz à corresponsabilidade fraterna; investir esforços concretos em iniciativas que levem à superação do problema; estimular iniciativas de agricultura familiar; e mobilizar a sociedade para que haja uma sólida política de alimentação, garantindo que todos tenham vida”, detalhou o deputado.
Por fim, Hermano convocou todos a serem protagonistas na construção de uma sociedade mais justa, igualitária e fraterna. “Como disse o nosso Papa Francisco, ‘não há democracia se existe fome’”, finalizou.
Na sequência, o presidente do Conselho Estadual de Segurança Alimentar, Jean Pierre Câmara, exibiu o panorama da fome no Rio Grande do Norte. “A fome é uma crise sistêmica composta pelas dimensões ambiental, social, econômica, sanitária, enfim, é uma questão com diversas conexões. E ela vem nos lembrar de um direito constitucional, que é a alimentação adequada e saudável, gerando o conceito de segurança alimentar e nutricional”, explicou.
De acordo com o presidente do conselho, a fome precisa estar dentro da agenda política do Brasil. “Hoje, muitos autores falam no ‘desmantelamento dos sistemas de proteção social e das políticas públicas’. Quando a gente tira o ‘Programa Nacional da Aquisição de Alimentos, ameaça o ‘Programa Nacional da Alimentação Escolar’ e reduz o número de cisternas, a gente está excluindo da agenda do governo o papel dele, que é garantir o bem-estar social”, destacou.
Em seguida, Jean Pierre ressaltou que a pandemia da Covid-19 evidenciou as fragilidades do sistema de proteção social (saúde, previdência e assistência social), deixando boa parte da população sem amparo.
“Além disso, a falta de universalização de atendimento de Saúde e a redução dos recursos do Fundo de Combate à Pobreza também alastram a problemática da segurança alimentar”, complementou.
Sobre os dados estatísticos da segurança alimentar e nutricional, com referência em pesquisas do IBGE, ele ressaltou que, em 2004, havia 9,4% da população em situação de fome no Brasil. “Já no ano de 2014, nós conseguimos sair do mapa da fome, com 77,1% dos cidadãos em segurança alimentar, graças a um conjunto de políticas públicas que permitiram maior transferência de renda, acesso amplo à alimentação escolar, enfim, com o aumento de investimentos públicos no bem-estar da sociedade brasileira”, exemplificou.
Outro dado trazido pelo presidente do Conselho Estadual de Segurança Alimentar foi o de que as regiões Norte e Nordeste são as mais atingidas pela fome no País.
“15,5% da população brasileira que passam fome. Dentre esses, 45,2% estão no Norte e 38,4% no Nordeste. Além disso, o problema da fome está mais presente nas áreas rurais. Já em relação ao gênero, é mais frequente entre as mulheres. E segundo critérios de cor da pele, percebe-se que a população autodeclarada negra tem o dobro de insegurança alimentar e nutricional em relação à branca”, concluiu Jean Pierre Câmara.
Dando continuidade aos discursos, o Arcebispo Metropolitano de Natal, Dom Jaime Vieira, falando em nome dos homenageados, agradeceu a oportunidade e enfatizou a importância de dar visibilidade às ações de solidariedade. “Vejo na galeria tantas pessoas da nossa sociedade e da nossa igreja, tantos cidadãos que se preocupam e se dedicam a essas causas urgentes e necessárias. E esta sessão tem uma importância muito grande para nós, porque enquanto a sociedade ressaltar e der amplitude a todas as ações voltadas ao combate de situações graves do ponto de vista social – a exemplo da fome – sabemos que tudo pode melhorar”, disse.
Para o arcebispo, a fome estarrece a todos e é uma vergonha no mundo de hoje. “Nós temos mais de 33 milhões de pessoas passando fome no Brasil. E eu não vou nem falar dessa quantidade a nível mundial. Portanto, após tudo que já foi dito aqui, nós agradecemos, diante de Deus, por esta oportunidade, e pedimos que Ele fortaleça cada vez mais iniciativas como essa”, concluiu.
Segundo o coordenador da Campanha da Fraternidade, Padre Robério Camilo Silva, a ação deste ano o fez lembrar que “só quem pode falar bem de fome é quem já passou fome”.
“Eu passei fome na década de 70, e ela era bem diferente da fome de hoje, porque as perspectivas são outras, as causas são outras. A gente passou fome, mas era por causa da seca. E, naquele tempo, quando ainda não havia políticas públicas muito organizadas, o governo chegava junto com as Frentes de Emergência. Eles não davam dinheiro, mas trocavam por serviço. Lembro que meu pai tinha que trabalhar o dia todo para poder voltar com a garantia da alimentação. E é assim, de geração em geração, a gente vai convivendo com a fome”, exemplificou o padre.
De acordo com o coordenador da campanha, as pessoas precisam refletir sobre como vão acolher o tema.“Diante do faminto, como vamos nos comportar? Precisamos ter compaixão, que é diferente de pena. Quando sentimos pena, nada fazemos; mas quando sentimos compaixão, vamos lá e cuidamos. Precisamos colocar a centralidade no amor e enxergar o outro como um irmão. Esse é o sentido da Campanha da Fraternidade. Só se preocupa com a fome real, quem tem fome e sede de justiça. Se nós podemos fazer alguma coisa, então façamos. Que essa campanha não termine aqui. Eu deixo aqui o meu muito obrigado e os votos de que Deus continue tocando os corações de todos aqui presentes”, finalizou.
Homenageados:
Dom Jaime Vieira Rocha (Arcebispo Metropolitano)
Padre Robério Camilo (Coordenador da Campanha da Fraternidade)
Padre José Freitas Campos (Ex-coordenador da Campanha da Fraternidade – 2004 a 2010)
Padre Alcimário Pereira de Oliveira (Ex-coordenador da Campanha da Fraternidade – 2011 a 2013)
Maria Piedade (Missionária católica que presenciou o nascimento da campanha na comunidade de Timbó)
Padre Antônio Murilo de Paiva (Rede SAR)
Marcos Antônio Campos (Fraternidade de Leigos Toca de Assis)
Jean Jeferson (Pastoral do Povo de Rua)
Emanuelle Cristiane Cassiane de Moura (Igreja Vida-Videira Transforma Brasil)
Edgar Smith (Armazém da Caridade)
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