O Tribunal de Contas da União (TCU) deve julgar o processo de relicitação do Aeroporto Internacional Governador Aluízio Alves, em São Gonçalo do Amarante, no dia 18 de janeiro de 2023. Nessa quarta-feira (14), o ministro Aroldo Cedraz, relator do processo na corte de Contas, confirmou que o seu parecer sobre a relicitação está concluído e será apresentado no próximo mês, na primeira reunião deliberativa do TCU. O aeroporto, primeiro do País concedido à iniciativa privada em 2014, aguarda o processo de licitação desde março de 2020, quando a Inframérica informou a desistência em operar o terminal.
A decisão de pôr o processo em julgamento chega após um longo trâmite, de quase três anos, e burocracias para a continuidade da licitação. Em outubro, o ministro havia solicitado um novo pronunciamento da Secretaria de Fiscalização de Infraestrutura Rodoviária e de Aviação Civil. Cerca de 10 dias depois, o auditor fiscal, André Luiz de Albuquerque, informou que não identificou irregularidades ou impropriedades que “desaconselhassem a continuidade da relicitação do aeroporto”.
Após isso, a última movimentação no processo de relicitação do Aeroporto Aluízio Alves foi a definição, por parte da Agência Nacional da Aviação Civil (ANAC) a respeito da indenização para a Inframerica. O valor foi fixado em R$ 549 milhões, divulgado no dia 13 de setembro. Ao todo, a operadora afirma ter investido mais de R$ 700 milhões no terminal. No site do Programa de Parcerias de Investimento do Governo Federal, que lista o andamento do projeto, a previsão era de que o edital e o leilão ocorressem entre o 3º e o 4º trimestre deste ano, o que não se concretizou.
Antes do anúncio do ministro do TCU, a bancada federal já havia afirmado que cobrariam maior celeridade no processo de licitação. No final de novembro, o deputado federal Benes Leocádio (União) que reuniria a bancada para tentar uma audiência com o ministro do TCU a fim de dialogar sobre a situação do terminal. Além deles, a população e entidades do setor já pedem, desde o início do processo, por investimentos no local.
Na tarde dessa quarta-feira (15), a governadora do Estado, Fátima Bezerra, teve audiência com o ministro Aroldo Cedraz, em Brasília (DF), e logo depois, informou por meio de suas redes sociais que o ministro tinha confirmado que colocará seu parecer na primeira sessão deliberativa do TCU, no próximo ano, marcada para o dia 18 de janeiro.
Na terça feira (13), representantes do governo do Estado, incluindo a governadora, já tinham se reunido com o presidente da Inframérica, Jorge Arruda, para discutir estratégias que dêem maior celeridade ao processo ainda em trâmite no Tribunal de Contas da União (TCU).
Regras
Em uma resolução publicada no começo deste ano, o Governo Federal definiu as regras para relicitação do Aeroporto Aluízio Alves. O novo contrato terá validade de 30 anos e a modalidade da relicitação será de concessão comum, com desestatização para exploração de infraestrutura aeroportuária. A previsão de investimentos, segundo o Ministério da Infraestrutura, é de R$ 308,9 milhões.
A indicação do vencedor será após leilão, a ser realizado em sessão pública, por meio de apresentação de propostas econômicas em envelopes fechados, com previsão de ofertas de lances em viva-voz, e inversão de fases, “com a abertura dos documentos de qualificação jurídica, fiscal, econômico-financeira e técnica do vencedor do leilão”, diz resolução do Governo Federal.
Prejuízo da Inframerica
Em junho deste ano, a Inframérica divulgou um prejuízo acumulado de R$ 1,1 bilhão desde o momento em que começou a operar o Aeroporto Internacional Governador Aluízio Alves, em 2014. Os dados são referentes ao balanço financeiro do terminal de 2021. Em 2020, o prejuízo estava em R$ 1,06 bilhão, indicando um crescimento de 3,4%. De acordo com o boletim, a operadora teve um aumento na receita operacional líquida, passando de R$ 30,5 milhões para R$ 36,4 milhões, bem como registrou diminuição de encargos, como os salários que passaram de R$ 2,09 milhões para R$ 1,9 milhões. O prejuízo é o valor amortizado. Ele leva em consideração os encargos dos 27 anos de pagamento anual de outorga, que é atualizada anualmente. Boletins anteriores da Inframerica mostram que o prejuízo acumulado do aeroporto inaugurado em maio de 2014 vem crescendo ao longo dos anos.
Terminal acumula problemas de infraestrutura
Ao longo dos últimos três anos, o terminal acumulou críticas por parte de entidades do turismo, setor comercial, turistas e funcionários. A morosidade da licitação deixa o aeroporto com uma sensação de “abandono”, relatada por turistas e funcionários do local. A falta de segurança na área de desembarque, baixa iluminação, escassez de lojas e de informações básicas de localização, um ar-condicionado que nem sempre funciona, são parte das reclamações.
Na terça-feira (13), quando a reportagem da TRIBUNA DO NORTE, esteve no local, colheu o depoimento do casal, Thainá do Nascimento, de 28 anos, e Danilo Basílio, de 33anos, que perdeu um voo por falta de avisos sonoros na área de check-in. Os dois precisaram esperar cerca de três horas para saber que o voo já havia partido. Além da situação incômoda, ainda sobrou tempo para reparar em outros problemas, como a falta de iluminação do local, apesar das paredes de vidro.
Para os funcionários, a falta de fiscalização é o que mais preocupa, além da escassez de seguranças próximo do desembarque, no piso inferior. “Falta segurança também, nesse ponto está abandonado. Faz muito tempo que não tem vigilância na porta do desembarque, há mais de anos”, afirma um deles, que preferiu não ser identificado.
Líderes de entidades do turismo como Associação Brasileira da Indústria de Hotéis do RN (ABIH), Sindicato das Empresas de Turismo do RN (Sindetur) e Associação Brasileira de Agências de Viagens (ABAV), repercutem a situação e atribuem os problemas a falta de investimento e administração.
A presidente da Associação Brasileira de Agências de Viagens, Michelle Pereira, atribui os problemas ao processo de licitação. “Tudo que está em processo de mudança, de relicitação, termina não buscando melhoras”, afirma. Ela afirma que é uma situação prejudicial para o turismo.“Eu sei que prejudica completamente porque você não busca novos investimentos como lojas, como manutenção”, diz.
Fonte: Tribuna do Norte
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